21 de maio de 2012

Igreja de Vera Cruz de Marmelar [Portel, Évora] -Tesouros Históricos do Alentejo




  Em 1268 D. Afonso III quis ter um apoio militar-religioso na zona alentejana entre o concelho de Évora e o de Beja e pediu ao seu amigo e colaborador João Peres de Aboim, senhor de Portel, que apadrinhasse a fundação de um mosteiro da Ordem do Hospital de S. João de Jerusalém, em Vera Cruz do Marmelar, sendo o seu fundador e primeiro prior, Frei Afonso Pires Farinha, que também havia sido companheiro de armas do rei português (foi seu conselheiro e testamenteiro).
Segundo a lápide que se encontra na sacristia da igreja de Vera Cruz, a construção do mosteiro, iniciada por Frei Afonso Pires de Farinha em 1268, prolongou-se por 20 anos. 
Foi reedificada no corpo da nave em meados do século XVI, a expensas do comendador Cristóvão da Cunha, mantém a abside medieval, constituída por três capelas românicas de cantaria lavrada, em grande parte recuperada de um primitivo templo visigótico, sendo de admitir que aí tenha existido uma primitiva construção.
SANTO LENHO (VERA CRUZ) – Venera-se nesta igreja a mais antiga relíquia do Santo Lenho do País, que terá sido trazida da Terra Santa, por Frei Afonso Pires de Farinha, numa das suas várias peregrinações aos Lugares Santos da Palestina, segundo alguns historiadores, incorporado na 7.ª Cruzada chefiada por S. Luís, rei de França e por Eduardo Plantageneta, rei de Inglaterra. A santa relíquia, inicialmente, destinava-se à Sé de Évora, mas um insólito prodígio forçou a sua permanência no mosteiro dos frades hospitalários de Marmelar.
    Chama-se “Santo Lenho” à cruz onde Jesus Cristo foi crucificado e que, por volta de 326, a mãe do imperador Constantino, Santa Helena, encontrou numas escavações que mandou executar no sítio do calvário, em Jerusalém. A partir deste “achamento” da “Vera Cruz”, multiplicaram-se as “relíquias” – fragmentos extraídos dessa Cruz e que foram levados para muitas partes do mundo.
O Santo Lenho trazido para o mosteiro de Marmelar tornou-se mais conhecido a partir da vitória dos cristãos contra os mouros, na batalha do Salado, em 1340, onde esta santa relíquia empunhada pelo Prior da Ordem do Hospital (Crato), Álvaro Gonçalves Pereira, teve um papel determinante, juntamente com 100 cavaleiros e mil peões eborenses chefiados pelo alferes Gonçalo Esteves Carvoeiro, segundo reza a lápide que se encontra à entrada da capela do SS. Sacramento, na Sé de Évora.
Foi depois da estrondosa vitória do Salado que a relíquia do Santo Lenho foi dividida em duas partes ficando uma em Vera Cruz do Marmelar e a outra foi destinada à Sé de Évora.   
O Santo Lenho de Vera Cruz, guardado num precioso relicário de prata dourada, mandado fazer por Nuno Álvares Pereira, despertou grande devoção, não só entre o povo simples que ali acorria em grande número e que ainda hoje continua a acorrer, mas também em nobres e reis, como foi o caso de D. Dinis (que o pediu emprestado por algum tempo) e D. Afonso V (em 1450 criou uma guarda de 40 homens para o Santo Lenho).



Frederica Rodrigues - Para vender, comprar ou arrendar em Portugal